– Então, Fernando, qual a sua profissão?

– Sou designer gráfico.

– Ah, o cara do Photoshop…

– Oi ?

Esse diálogo aconteceu comigo, faz alguns dias. E, pasmem, com uma pessoa que possuia nível superior e uma grande experiência de vida. Aparentemente.

Obviamente que isso me deixou irritado. Muito. Afinal, faculdade, projetos, palestras, experiências, testes, livros e mais livros, aprendizado e muito trabalho. Tudo isso para ser definido como “o cara do Photoshop”? Não, realmente não me agradou ter minha profissão definida dessa maneira.

Mas quantas vezes nós mesmos não praticamos esse preconceito? Sim, preconceito, pois simplesmente achamos que a profissão do outro se resume àquilo que sabemos dela. Ou muitas vezes nem sabemos, apenas ouvimos falar por outras pessoas ou fontes. Ou pior ainda, imaginamos.

Não é comum ouvir dizer que psicólogos e terapeutas só tratam de gente louca? Ou perguntar para um músico com que mais ele trabalha. Ou para um artista plástico aonde ele dá aulas. E por aí vai.

Me incomoda isso, pois vivemos em um tempo onde estamos aprendendo a respeitar as diferenças e escolhas das pessoas, seja de orientação sexual, de etnia, posicionamento político, religioso, etc… Fazer uma piada sobre algum desses temas é crime previsto em lei. Mas fazer uma piada sobre a profissão da pessoa é válido. Temos que tolerar? É simplesmente uma brincadeira, uma tentativa de denegrir a sua escolha e o seu trabalho ou uma amostra pura de ignorância?

Ignorância, sim. Nos últimos anos o trabalho se reinventou em muitas facetas. Home office, co-working, terceirização, leis se modificando para acompanhar nas necessidades do mercado. Isso sem falar em todas as profissões que simplesmente desapareceram e nas novas que surgiram. Coaches das mais diversas áreas, personal organizers, designers de várias aplicações, especialistas dos mais diversos tipos, traders, nômades digitais, youtubers, podcasters, blogers. Isso só pra começar. Se você não conhece as novas profissões, se informe. Ou, pelo menos, não tenha medo de perguntar. Pode ter certeza que o profissional vai lhe responder com alegria. Um youtuber com ganhos de 6 dígitos mensais vai poder lhe explicar que a profissão dele vai muito além de apenas gravar vídeos legais e postar na internet.

Infelizmente ainda vamos ter que lidar com muita gente, muito mais do que eu imaginava, que ainda vai ser saudosista e falar que “no meu tempo” não existia tanta frescura e esse monte de gente que não tem vontade de trabalhar, ou que tem um trabalho que ninguém sabe o que é. Fica claro que para esse tipo de pessoa ainda teríamos muita gente que fabricaria rodas de carroça e que consertaria máquinas de escrever…

O mundo muda a cada instante. Faça a sua lição de casa. Leia, aprenda sobre as novas profissões e não tenha medo de perguntar sobre elas.

E, por favor, não defina mais a minha.

Fernando Zavarelli

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